quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Esperando Godot

Esperando Godot

Que tal um jantar de gala dentro de um terminal de ônibus? Essa foi mais uma das nossas ideias para performances. Era realmente para causar estranhamento e questionar as pessoas o porquê. O por que de um jantar no meio do terminal.

“(...)todo o esforço do performer é mostrado sem a preocupação do espectador em ocultar-lhe, assim também como os meios de construção de cenários e contra-regragem (...)O atuante constituiu um jogo de olhares com o público se fazendo estranhar. O artista passa a ser um espectador de si mesmo, ele olha e avalia o próprio corpo em meio a movimentos específicos, demonstrando que ele está assustado com o que se passa(...)assim como o jogo de olhares com o próprio corpo, ele assim o faz com o espaço, o estranhamento e conferindo a ele, (...) um destaque para que o público o perceba, analise e critique.”

Fomos então para o terminal com um ônibus da UVV, entramos no terminal, cada um pagou a sua passagem. Infelizmente ao entrarmos fomos quase convidados a nos retirarmos. Fomos proibidos de realizar qualquer coisa sem uma solicitação. Em fim fomos para a praça mais perto. Sem muitas pessoas na praça tivemos a ideia de fazer em frente ao ponto de ônibus onde estavam concentradas algumas pessoas.
A performance começa desde o momento em que começamos a arrumar a mesa. Todo o cuidado na hora de montar os pratos e tudo ali, num ponto de ônibus. Rafaela então toda arrumada com saltos e maquiagem senta-se na mesa e com postura começa a jantar. Um de nossos amigos de classe é o garçom que a serve com toda delicadeza. As pessoas então são convidadas a se sentarem e participar do banquete do modo em que quiserem. Num ato singelo Rafaela começa a fazer os convites que no início causaram um grande estranhamento. As pessoas olhavam-se umas para as outras, riam, outras nem sequer davam ideia, menosprezaram.
Percebe-se um grande fluxo de jovens saindo de uma escola em frente ao ponto e que se concentram no local para pegarem o seu ônibus. Uns olham com o mesmo estranhamento, outros comentam, questionam. Outros falam mal, não dão “pitaco” e se retiram. Ouvem-se comentários do tipo: Será que é comida envenenada? O que é isso? Trabalho de escola? Quem são vocês? Nada muito diferente do que sempre ouvimos.
Até que depois de muito tempo surge uma mulher que confessa estar com muita fome e senta-se com a Rafa e começa a se deliciar com o jantar.
Inicia-se então um diálogo. Uma conversa prazerosa. A mulher elogia o banquete e se delicia com a cena. Assunto do dia-a-dia surgem naturalmente. A mulher entra no jogo e se sente em casa. As duas conversam como se fossem duas amigas. Foi tomando então uma intimidade e a conversa se tornou ainda mais extensa. Com o passar do tempo tivemos que interromper a performance para que fôssemos embora. Eu particularmente não gosto deste ato de ter que interromper a performance. Toda aquela expectativa que tínhamos no início de que alguém fosse a mesa junto com a Rafa, se sentasse e conversasse com ela, se quebrou neste momento de interrupção. Para mim isso invade a proposta da performance.
Foi um ótimo trabalho, mas que teve um desfecho por mim não muito desejável.



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