Esperando
Godot
Que
tal um jantar de gala dentro de um terminal de ônibus? Essa foi mais uma das
nossas ideias para performances. Era realmente para causar estranhamento e
questionar as pessoas o porquê. O por que de um jantar no meio do terminal.
“(...)todo o esforço do performer é mostrado sem a
preocupação do espectador em ocultar-lhe, assim também como os meios de
construção de cenários e contra-regragem (...)O atuante constituiu um jogo de
olhares com o público se fazendo estranhar. O artista passa a ser um espectador
de si mesmo, ele olha e avalia o próprio corpo em meio a movimentos
específicos, demonstrando que ele está assustado com o que se passa(...)assim
como o jogo de olhares com o próprio corpo, ele assim o faz com o espaço, o
estranhamento e conferindo a ele, (...) um destaque para que o público o
perceba, analise e critique.”
Fomos
então para o terminal com um ônibus da UVV, entramos no terminal, cada um pagou
a sua passagem. Infelizmente ao entrarmos fomos quase convidados a nos
retirarmos. Fomos proibidos de realizar qualquer coisa sem uma solicitação. Em fim
fomos para a praça mais perto. Sem muitas pessoas na praça tivemos a ideia de
fazer em frente ao ponto de ônibus onde estavam concentradas algumas pessoas.
A
performance começa desde o momento em que começamos a arrumar a mesa. Todo o
cuidado na hora de montar os pratos e tudo ali, num ponto de ônibus. Rafaela
então toda arrumada com saltos e maquiagem senta-se na mesa e com postura
começa a jantar. Um de nossos amigos de classe é o garçom que a serve com toda
delicadeza. As pessoas então são convidadas a se sentarem e participar do banquete
do modo em que quiserem. Num ato singelo Rafaela começa a fazer os convites que
no início causaram um grande estranhamento. As pessoas olhavam-se umas para as
outras, riam, outras nem sequer davam ideia, menosprezaram.
Percebe-se
um grande fluxo de jovens saindo de uma escola em frente ao ponto e que se
concentram no local para pegarem o seu ônibus. Uns olham com o mesmo
estranhamento, outros comentam, questionam. Outros falam mal, não dão “pitaco”
e se retiram. Ouvem-se comentários do tipo: Será que é comida envenenada? O que
é isso? Trabalho de escola? Quem são vocês? Nada muito diferente do que sempre
ouvimos.
Até que
depois de muito tempo surge uma mulher que confessa estar com muita fome e
senta-se com a Rafa e começa a se deliciar com o jantar.
Inicia-se
então um diálogo. Uma conversa prazerosa. A mulher elogia o banquete e se
delicia com a cena. Assunto do dia-a-dia surgem naturalmente. A mulher entra no
jogo e se sente em casa. As duas conversam como se fossem duas amigas. Foi
tomando então uma intimidade e a conversa se tornou ainda mais extensa. Com o
passar do tempo tivemos que interromper a performance para que fôssemos embora.
Eu particularmente não gosto deste ato de ter que interromper a performance.
Toda aquela expectativa que tínhamos no início de que alguém fosse a mesa junto
com a Rafa, se sentasse e conversasse com ela, se quebrou neste momento de interrupção.
Para mim isso invade a proposta da performance.
Foi um
ótimo trabalho, mas que teve um desfecho por mim não muito desejável.
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