Happening
“Tirésias”
Essa
experiência foi uma das mais significativas.
Fizemos
esse happening juntamente com a turma de fotografia da universidade.
O
local foi o estúdio de TV da universidade. Preparamos o local com alguns
estímulos, pipoca, barbante molhado e alguns outros objetos como as cadeiras e
poltronas. A interação iria acontecer no escuro durante 40 á 50 minutos.
Arrumamos
o espaço e depois saímos para entrar novamente no happening propriamente dito.
Perdendo a noção visual, comecei a descer a escada sentada, com uma aflição de
procurar os degraus com as pernas e essa busca parece que se tornou infinita no
“último degrau”, mesmo esticando a perna ao máximo com o medo de cair não
conseguia achar esse último degrau e o alívio só veio quando esbarro o meu pé
em um pedaço de tecido e percebo que já estava no chão. Conseguia imaginar a
minha cara de medo subitamente mudando para uma cara feliz por causa do alivio,
fiquei rindo de mim mesma durante um bom tempo.
Depois,
uma vez de pé, procurei algo a que me apoiar. A sensação se você ficar sozinha
no escuro sem nenhum apoio e apenas escutando vozes e a movimentação dos
objetos pelo espaço é angustiante. Um mero toque no braço acho que pelo
instinto, faz você segurar o que for forçando o a ficar ali perto de você. Fiz
isso várias vezes antes de realmente me tranqüilizar com aquela situação.
Experimentamos
várias sensações. Cantamos, produzimos sons, ficamos em silêncio, gritos. Cada
um foi absorvido com uma intensidade maior e diferente a cada mudança.
Até
certo momento do happening eu estava interagindo com o local, até que alguém
segura o meu pé bruscamente e como um reflexo que eu tenho logo tirei por que
isso me vem como um instinto de perigo. Gritei claro e fiquei procurando uma
sombra ou o que fosse que se aproximasse de mim, abaixada com as mãos mexendo
no ar na esperança de esbarrar (ou não) em quem ou o que pegou no meu pé. Um
calafrio foi me acontecendo na medida em que imaginava esse ser atrás de mim e
foi ai que eu fui surpreendida por mais uma vez pegando o meu pé desta vez
seguidas vezes. Comecei a suar frio e entre um pulo e outro para sair de quem
me torturava, consegui agarrar o braço e instantaneamente comecei a bater nesse
alguém, a fim de me proteger. Bati muito, meu braço ficou formigando e quando
dei um passo atrás esbarrei em uma cadeira e lá sentei e permaneci durante um
tempo, pra me acalmar. Não sei o porque tenho essa aflição tão grande por
alguma coisa, qualquer coisa encostar no meu pé. Só sei que esse pavor aumentou
mil vezes no happening.
Depois
de um certo momento percebi que a vista começava a se acostumar com a escuridão
e por isso conseguia ver nitidamente o espaço todo, não possuía mais aquela
cautela ao andar pelo espaço. Não somente a visão, mas como a percepção pela
audição, eu conseguia identificar a proximidade de uma pessoa conhecida ou pela
respiração, cheiro ou toque. Ou os três juntos. E ao final dos minutos, antes
de entrarmos programamos despertadores para o mesmo horário o que se tornou uma
sinfonia de toques. Precisei ficar em silêncio para absorver aquele momento.
Quando
acendemos as luzes, ouvimos comentários e sensações que tiveram nessa
experiência. Optei por ficar em silêncio, achei que precisava absorver mais
todas aquelas sensações, apesar de serem semelhantes as que estavam sendo
expostas ali.
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