terça-feira, 13 de outubro de 2015

Performance "MORFEU"

MORFEU


Relatar qualquer experiência, quando se trata de performance, com a visão do artista que a fez sobre a reação do público que a presenciou, é possível sempre se identificar algumas reações das quais o artista esta familiarizado. O estranhamento como objetivo da performance não vem em sua totalidade na maioria das vezes por conta dos  que não se “deixam” afetar por aquele deslocamento por mais que o intuito uma vez determinado seja de afetar diretamente esse sujeito, em suposição. Outro lugar a ser destrinchado em poucas palavras nessa crítica é o de necessidade de sentido em uma performance onde é agregado outros pontos e possivelmente menos aquele que veio como principal.
A performance “Morfeu” realizada na instituição Universidade Vila Velha teve a intenção de deslocar do mais intimo ao mais sombrio da realidade sonífera de todo a massa, não só daqueles que iriam presenciar, resumidos em nove performances espalhadas pelo espaço de entrada da universidade com colchões, lençóis e pijamas tudo para trazer essa realidade e que consequentemente acaba adquirindo uma visão lúdica daquele recorte da vida.
E para conseguir esse recorte de vida, gerando a veracidade entramos no ponto da vivência da ação e da interpretação. Há uma tênue linha entre esses dois aspectos. Viver a experiência da performance gera um efeito indiscutível que a interpretação não alcança, por você se entregar na ação como um “boneco de lama” e ir se moldando, adequando. Absorvendo o inesperado da vivência. Mas não podemos rejeitar a interpretação por completo com o receio de que o espectador perceba e não interaja com ação por se tratar de uma ficção, mas evitar ao máximo essa “preparação” antecipada da performance.
“Na vida cotidiana, a verdade é o que existe realmente, o que se conhece. Enquanto em cena, ela é constituída de coisas que não existem realmente, mas que poderiam ocorrer.”¹ Diz Stanislavski sobre a naturalidade cênica, mas que se encaixa de certa forma na situação que a “Morfeu” propõe.
A principio o objetivo em si era expor a realidade do que acontece no momento que estamos mergulhados no nosso mais profundo intimo. Várias ações que acontecem foram feitas e a opinião sobre do que se tratava aquela ação estava livre para o entendimento do público que a assistia. Deixar livre a interpretação para o espectador tem um caráter muito enriquecedor, podem surgir sentidos que nem foram cogitados durante a elaboração, o processo da mesma. Quando um sentido maior é estabelecido e que há o esforço para que o mesmo seja entendido pelo público, acaba desfavorecendo o próprio objetivo.
O sujeito acaba por realizar a sua própria leitura daquela cena ou até mesmo fazendo nenhuma, por não fazer sentido para ele e isso que acaba gerando uma confusão de sentidos, o que também é valido em uma performance.
A expectativa sobre os comentários dessa performance com um sentido maior, pode ser frustrante por conta dessa confusão de leitura. A ação pode ser muito elaborada e com o sentido claro para o artista, mas quanto para público passou despercebido, o erro de manter a performance sobre a única visão do artista e esquecer de que a performance é também feita para o público compromete o objetivo e sua intenção, a de provocar.
“Chocado com a Universidade Vila Velha, uns alunos (provavelmente de artes cênicas) encheram o prédio de Direito de colchão (com um monte de gente deitada, plantando bananeira, pedindo silêncio, pedindo pra dormir junto etc.) e colocaram um doido fazendo simulação de atos obscenos na escadaria principal junto com uma menina jogando sangue fictício pelo corpo dela e dele – A sentir-se confuso” (A.N)
As vezes o sentido é ser sem sentido. A provocação da performance é alcançada mais não a que o artista provavelmente desejou. O deslocamento dessa ultima cena citada no comentário pode não ter saído do além que faz sentido para o artista.
A reação do público em resposta a esse estranhamento carregado de vários olhares críticos ou não, que compõe essa recepção subjetiva do público. Desse olhar externo que se é sujeito receber, são daqueles que se vêem em um verdadeiro estado de possível semelhança, curiosidade, questionamento, aversão. O público interage direta ou indiretamente com aquela situação que é fictícia, mas que contém uma ação da realidade que pode requerer uma intervenção maior por parte dele. Mas também há aqueles que se comportam indiferente ao diferente que está ali, próximo de seu cotidiano, da sua realidade.
O sujeito ser afetado pela performance traz esse comportamento, mas  há também aquela parte do público que não se deixa afetar, quase como um tipo de negação a tudo aquilo que interfere no seu cotidiano. O comportamento dos “não afetados” á aquele deslocamento, talvez por não se permitirem gerar associação com aquela situação por mais semelhante que possa ser ao indivíduo ou simplesmente por querer ser indiferente, nesse caso, ao intimo exposto em um local incomum.
Os “não afetados” define-se como aquele público fechado que não aceita a provocação nem o deslocamento que aquela performance traz embutida nas suas ações. De certa forma é um estranhamento que vem como resposta e não se deve descartar. Mas finalizo com uma justificativa a esse comportamento não só referente a performance mas também na vida: Nós não estamos acostumados a interação.


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