SANSÃO
Um
ato performativo do curso de Artes Cênicas de Vila Velha no Espírito
Santo causa um enorme estranhamento ao ser exibido em público.
Anderson, um dos alunos do 4º período, se coloca no meio da Praça
em Coqueiral de Itaparica, sentado numa cadeira com uma vestimenta
bem esvoaçante. Acima dele uma faixa enorme amarrada sobre duas
árvores escrito: “CORTE O MEU CABELO”, com uma tesoura pendurada
por um barbante. Essa era a cena que qualquer um encontraria a mais
ou menos 22 h em plena quarta-feira. Admirei-o pela coragem, afinal
depois de todos cortarem o cabelo dele todo torto ele teria que
raspar a cabeça e ele aceitou naturalmente sem reclamar.
“É
na arte que o homem se ultrapassa definitivamente.”
(BEAUVOIR,
S.)
Por
ser muito tarde e um dia de semana, já era de se esperar que não
houvesse muito movimento, mas como um dia de trabalho, haviam
trabalhadores na praça com suas barracas vendendo cachorro quente,
pastel, hambúrguer, doces etc. Foi esse o nosso público, assim como
as pessoas que estavam lanchando nas barracas.
Com
a cena já instalada, demorou-se um tempo para que alguém percebesse
aquilo como um ato performativo, isso foi bom pois olharam como algo
estranho e esse era um de nossos objetivos, causar estranhamento e
curiosidade nas pessoas. Muitos pararam e acharam obsceno uma cena
daquela no meio de uma pracinha. Uns riram e acharam o máximo,
outros não gostaram e faziam gestos negativos com a cabeça. É
muito bom quando um mesmo ato é absorvido de diversas formas em
diferentes pessoas. Algumas pessoas que passavam de bicicleta,
pararam para observar a cena e achavam maluquice.
O
tempo foi passando e ninguém teve a coragem de se arriscar para
cortar o cabelo, uns deveriam pensar: Será que é uma armadilha, uma
pegadinha?! Ou pelo simples fato de olharem uns para os outros e
ninguém ir. Como estávamos com o tempo curto, foi necessário a
condução através da voz da direção, nossa professora e diretora
Rejane instigou-os a chegarem perto e realmente cortassem o cabelo do
Anderson. Não sei até que ponto isso foi bom. Acho que a
performance não deve ser contada nem instigada. As pessoas deveriam
ter o tempo que for necessário para que entendessem ou não. Faz
parte da interpretação do público, mas devido ao tempo, tivemos
que instigar para provocar. Por outro lado foi bom pois estimulou os
outros.
Depois
da insistência um menino se aproximou e cortou. Ele se sentiu tão à
vontade e achou tanta graça que continuou cortando e acho que queria
cortar o cabelo todo. As pessoas então curiosas e surpresas pela
coragem do menino foram se aproximando, principalmente as crianças.
Foram formando um círculo e todos começaram a ficar ansiosos e
inquietos. O menino que estava cortando o cabelo do Anderson estava
tão entretido que não queria sair dali. Foi então necessário mais
uma vez a voz da direção para que ele deixasse os outros cortarem
também. Assim outras pessoas foram se sentido a vontade e cortando o
cabela dele. No final já tinha aglomerado uma porção de gente e
mesmo com as desavenças e as mudanças de plano, acabou dando certo.
Foi interessante o meu olhar de fora.
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