A performance foi um pouco
inusitada, pois era com um aspecto de uma venda meio louca, pois era uma
comercialização de vários objetos sem sentido, coisas intimas e outras bem
nojentas.
Tudo começou dentro da sala
de aula, com vários debates e conversas sobre como fazer a próxima performance,
e idéias vai, idéias vem e foi surgindo a idéia de fazer sobre um comercio, e
como a nossa turma é muito insana, foram falando que poderia ser de coisas sem
sentido. Foi bem absurdo na hora que começaram a falar de levar papel higiênico
sujo de bosta, fralda mijada, gorfo de neném, pelos pubianos, pedaços de unha,
absorvente sujo de sangue. Só de falar foi aterrorizante, e engraçado, pois
realmente não imaginaria que iria acontecer mesmo, que aquilo era verdade.
No dia da performance estava
chovendo,mas mesmo assim a performance rolou, foi realizada na entrada da
Universidade, na entrada de frente para o prédio rosa, pois lá no horário de
22:00 é mais movimentado.
Ana foi a performer da vez,
montou a mesa com as variedades exposta sobre a mesa, com as coisas mais
escrotas que eu já vi. Mas estavam tudo dentro de uns potinhos que pareciam bem
comestível mesmo.
Havia horas em que ela começava
a abordar as pessoas na porta da faculdade dizendo, “boa noite, vamos dar uma
olhadinha nas iguarias”
Só de ela falar iguarias eu
no meu canto morria de rir, pois soava como algo tão real, de uma vendedora de
verdade, fiquei observando as pessoas passarem e olhar, algumas nem dava
atenção de olhar e simplesmente viravam-se ou se direcionava para o lado
oposto.
Algumas pessoas pararam e
quando eles iam até a barraca e viam o que eram saiam rindo, engraçado que vi,
foi em um momento que duas moças chegram e perguntaram o que era, e quando a Ana
falou e mostrou o cardápio, elas saíram dizendo “que horror”.
É estranho ser abordado por
uma pessoa que vende papel higiênico suco de bosta, e absorvente sujos de
sangue de menstruação, ou até mesmo pedaços de unhas, que por incrível que
pareça foi um produto vendido. Agora eu paro e penso em como ela conseguiu
vender uma unha, não sei, mas talvez seja graça que a pessoa estava fazendo e
querendo participar da performance, pois pra que serventia serviria aquela
unha. Sei que não, mas vai que para ele teria alguma, como para nos teve em
fazer a performance.
O estranhamento estava bem nítido
nesta performance, pois era algo bem absurdo, que se casava com algo sem
sentido, que fez muito sentido para nós que estávamos ali presenciando, em ver
como o publico interage com atos assim.
É evidente o estranhamento
causado pela performance, principalmente sob a perspectiva do senso comum. Há um
desejo de ser compreendido?
Penso que o artista da performance necessita ter um certo desprendimento, para não criar expectativas de como as pessoas vão reagir. Se a performance enquanto linguagem procura uma desestabilização dos padrões ou dos locais, se ela brinca com isso e desestabiliza as relações e os procedimentos da arte, me parece que o artista deveria estar atento para não cair na armadilha de criar expectativas estabilizadas, como quem desestabiliza e se incomoda com a desestabilização que ocorre.
Penso que o artista da performance necessita ter um certo desprendimento, para não criar expectativas de como as pessoas vão reagir. Se a performance enquanto linguagem procura uma desestabilização dos padrões ou dos locais, se ela brinca com isso e desestabiliza as relações e os procedimentos da arte, me parece que o artista deveria estar atento para não cair na armadilha de criar expectativas estabilizadas, como quem desestabiliza e se incomoda com a desestabilização que ocorre.
É muito comum as pessoas
quererem entender a performance. Essa coisa da fruição da arte a partir de um
entendimento racional. As pessoas sempre
fazem perguntas do tipo "O que é isso? Mas o que você está fazendo?"
Há uma certa agonia da nossa sociedade, de precisar entender, ou elaborar um entendimento para poder se situar e ficar confortável.
Há uma certa agonia da nossa sociedade, de precisar entender, ou elaborar um entendimento para poder se situar e ficar confortável.
[...] Não se trata apenas de gerar uma
situação, mas de fazer com que cada um viva novas sensações-cinema, como se
mesmo dentro de um grupo cada participador pudesse escolher seu filme. Neste
sentido, se desconstrói a idéia de um público uno e silencioso diante de
narrativas que lhe são estranhas e cria-se um cosmos de sensações produzidas
primeiro pelo e no corpo de cada integrante das experiências que se desenvolvem
[...] (Maciel, 2007,p.172).
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