Já a algum tempo estávamos
planejando esta performance. Foi algo que surgiu a partir de vários dos nossos
encontros de direção, posso dizer que foi uma performance que todos tiveram
participação tanto na elaboração da performance quanto na execução.
A ideia era que trouxéssemos
objetos que marcaram a nossa infância, colocando em forma de exposição. Cada um
ficou responsável por arrumar o seu “cantinho”.
De início, tínhamos pensado
em fazer de baixo das árvores na entrada do prédio de direito. Eu queria muito
que fosse neste local, pois a árvore me remete ao tempo. E o tempo me remete a
infância. A própria imagem da árvore com os galhos e as folhas balançando já
traz um ar de natureza e infância. Eu já estava levando tudo o que eu ia
precisar para que fosse de baixo da árvore. A ideia era que as minhas fotos
ficassem penduradas nos galhos das árvores. Levei várias velas com suportes
variados, levei lampião para iluminar as árvores para que as pessoas conseguissem
ver os nossos objetos e até mesmo a poética que a vela e o lampião trazem.
As velas têm
valor simbólico: significam a "luz da fé”.
(...)A vela é o
símbolo da luz e da consagração. Acompanha o cristão em sua caminhada por este
mundo até chegar ao reino da luz.
(...)O próprio
Jesus nos dá a missão de ser luz na cidade, no trabalho, na comunidade, na vida
diária - "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14). Ser luz é ser alegre,
alerta, acordado, vigilante, vibrante, cheio de ardor, de fogo.
A função da luz
é fazer enxergar. Por isso, ser luz é fazer o mundo enxergar a presença viva de
Deus entre nós, num comportamento de amor, verdade, justiça e paz.
A vela então já veio não somente com o objetivo de iluminar, mas
como um objeto que teve todo esse valor e significado na minha vida. Olhar para
a vela, me fez lembrar toda a minha caminhada na igreja. Desde o batismo até a
crisma. Junto com as velas eu trouxe um rosário que também tem esse vínculo com
a igreja e com o significado da vela. Esse rosário eu ganhei no meu aniversário
de 15 anos de meus pais. O que mais uma vez me traz memórias positivas.
Levei também coisas que minha mãe guardara desde a minha infância,
como o meu primeiro cabelo cortado aos quatro anos. Que saudade dos meus
cachinhos loiros... (rsrs). Até os meus primeiros dentinhos minha mãe guardou e
eu levei-os num potinho...
Levei muitas fotos. Cada foto me faz lembrar de uma roupinha de
quando eu era pequena, de um aniversário, de uma arte que eu tenha feito
(rsrs), de um acontecimento. É com muito carinho que eu guardo cada uma delas,
então achei interessante levar. Levei bonecas que fazem parte das minhas
maiores e melhores lembranças. Eu adorava brincar de boneca, era como se o
tempo não passasse. Era dentro de casa, na rua. Podia ser em qualquer lugar. Eu
brinquei de boneca até meus 12 anos mais ou menos.
Uma das coisas que eu mais senti falta e admito que ainda sinto
foi de quando eu fazia ginástica olímpica ainda na escola, eu adorava. Fazia
com minhas antigas amigas de classe o que se tornava ainda mais especial. Da
até vontade de chorar...foi uma época muito marcante. Sair da escola e sair da
ginástica olímpica foi bem difícil para mim. Mas tenho guardado até hoje o meu colam,
as minhas medalhas, embora que as medalhas nem faziam tanto significado, pois
nunca me preocupei tanto em ganhar, mas sim pelo gosto que sempre tive pela
modalidade. Esses foram os objetos que mais fizeram parte da minha infância.
Apesar da performance não ter sido feita na entrada do prédio onde
eu achei que além de fazer parte da minha performance seria um local mais
visível e mais registrado, foi importante lidar com a mudança de planos.
Venho agora falar de algumas das performances dos meus amigos que
mais me marcaram.
A performance da Rafa tenho certeza que foi marcante para todos,
apesar de eu não ter visto tudo pois estava preparando a minha performance.
Todos comentaram e depois ela mesma falou sobre o assunto. Ela levou uma farda
do pai dela que além de ter um significado na infância que lhe trouxe dor pois
ele batia nela, trouxe também a saudade por ter anos que ela não vê ele. Isso
ficou mais marcante quando alguém o perguntou e ela não aguentou e se desfez em
lágrimas.
A Yule também passou por algo semelhante. Ela levou um quadro de
quando era pequena nada mais. Porém eu ainda não tinha visto. Então perguntei a
ela onde estavam os objetos dela e lembro claramente que ela respondeu: No ar!
Aquilo me marcou muito pois ela disse que se ela trouxesse muitas coisas isso
lhe faria lembrar da sua família que ela ver regularmente, mas que devido a
faculdade moram um pouquinho longe. Isso também a fez chorar.
Pude perceber que muitos objetos ainda traziam dor e angustias
para alguns. Por isso eu optei por não trazer objetos que me causaram dor.
Lógico que todos nós passamos por dificuldades. Eu passei por muitas e ainda
passo. Mas trouxe as que me trazem alegria, pois não são as ruins que me
representam e sim as boas. Não quero lembrar das coisas ruins. E com certeza as
boas são maiores e melhores que as ruins.
Os objetos nos fizeram lembrar de várias coisas boas e ruins. Mas
a nossa maior e melhor recordação não está nos objetos e sim na nossa memória.
Se na
juventude fiz loucuras,
E por alguma razão esqueci,
Vou na memória à procura,
Quero lembrar do que fiz,
Pois não lembro de nada,
Que não tenha me feito feliz.
E por alguma razão esqueci,
Vou na memória à procura,
Quero lembrar do que fiz,
Pois não lembro de nada,
Que não tenha me feito feliz.
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