terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Mnemósine a Deusa Grega da Memória






Já a algum tempo estávamos planejando esta performance. Foi algo que surgiu a partir de vários dos nossos encontros de direção, posso dizer que foi uma performance que todos tiveram participação tanto na elaboração da performance quanto na execução.

A ideia era que trouxéssemos objetos que marcaram a nossa infância, colocando em forma de exposição. Cada um ficou responsável por arrumar o seu “cantinho”.

De início, tínhamos pensado em fazer de baixo das árvores na entrada do prédio de direito. Eu queria muito que fosse neste local, pois a árvore me remete ao tempo. E o tempo me remete a infância. A própria imagem da árvore com os galhos e as folhas balançando já traz um ar de natureza e infância. Eu já estava levando tudo o que eu ia precisar para que fosse de baixo da árvore. A ideia era que as minhas fotos ficassem penduradas nos galhos das árvores. Levei várias velas com suportes variados, levei lampião para iluminar as árvores para que as pessoas conseguissem ver os nossos objetos e até mesmo a poética que a vela e o lampião trazem.



As velas têm valor simbólico: significam a "luz da fé”.

(...)A vela é o símbolo da luz e da consagração. Acompanha o cristão em sua caminhada por este mundo até chegar ao reino da luz.

(...)O próprio Jesus nos dá a missão de ser luz na cidade, no trabalho, na comunidade, na vida diária - "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14). Ser luz é ser alegre, alerta, acordado, vigilante, vibrante, cheio de ardor, de fogo.

A função da luz é fazer enxergar. Por isso, ser luz é fazer o mundo enxergar a presença viva de Deus entre nós, num comportamento de amor, verdade, justiça e paz.



A vela então já veio não somente com o objetivo de iluminar, mas como um objeto que teve todo esse valor e significado na minha vida. Olhar para a vela, me fez lembrar toda a minha caminhada na igreja. Desde o batismo até a crisma. Junto com as velas eu trouxe um rosário que também tem esse vínculo com a igreja e com o significado da vela. Esse rosário eu ganhei no meu aniversário de 15 anos de meus pais. O que mais uma vez me traz memórias positivas.

Levei também coisas que minha mãe guardara desde a minha infância, como o meu primeiro cabelo cortado aos quatro anos. Que saudade dos meus cachinhos loiros... (rsrs). Até os meus primeiros dentinhos minha mãe guardou e eu levei-os num potinho...

Levei muitas fotos. Cada foto me faz lembrar de uma roupinha de quando eu era pequena, de um aniversário, de uma arte que eu tenha feito (rsrs), de um acontecimento. É com muito carinho que eu guardo cada uma delas, então achei interessante levar. Levei bonecas que fazem parte das minhas maiores e melhores lembranças. Eu adorava brincar de boneca, era como se o tempo não passasse. Era dentro de casa, na rua. Podia ser em qualquer lugar. Eu brinquei de boneca até meus 12 anos mais ou menos.

Uma das coisas que eu mais senti falta e admito que ainda sinto foi de quando eu fazia ginástica olímpica ainda na escola, eu adorava. Fazia com minhas antigas amigas de classe o que se tornava ainda mais especial. Da até vontade de chorar...foi uma época muito marcante. Sair da escola e sair da ginástica olímpica foi bem difícil para mim. Mas tenho guardado até hoje o meu colam, as minhas medalhas, embora que as medalhas nem faziam tanto significado, pois nunca me preocupei tanto em ganhar, mas sim pelo gosto que sempre tive pela modalidade. Esses foram os objetos que mais fizeram parte da minha infância.

Apesar da performance não ter sido feita na entrada do prédio onde eu achei que além de fazer parte da minha performance seria um local mais visível e mais registrado, foi importante lidar com a mudança de planos.

Venho agora falar de algumas das performances dos meus amigos que mais me marcaram.

A performance da Rafa tenho certeza que foi marcante para todos, apesar de eu não ter visto tudo pois estava preparando a minha performance. Todos comentaram e depois ela mesma falou sobre o assunto. Ela levou uma farda do pai dela que além de ter um significado na infância que lhe trouxe dor pois ele batia nela, trouxe também a saudade por ter anos que ela não vê ele. Isso ficou mais marcante quando alguém o perguntou e ela não aguentou e se desfez em lágrimas.

A Yule também passou por algo semelhante. Ela levou um quadro de quando era pequena nada mais. Porém eu ainda não tinha visto. Então perguntei a ela onde estavam os objetos dela e lembro claramente que ela respondeu: No ar! Aquilo me marcou muito pois ela disse que se ela trouxesse muitas coisas isso lhe faria lembrar da sua família que ela ver regularmente, mas que devido a faculdade moram um pouquinho longe. Isso também a fez chorar.

Pude perceber que muitos objetos ainda traziam dor e angustias para alguns. Por isso eu optei por não trazer objetos que me causaram dor. Lógico que todos nós passamos por dificuldades. Eu passei por muitas e ainda passo. Mas trouxe as que me trazem alegria, pois não são as ruins que me representam e sim as boas. Não quero lembrar das coisas ruins. E com certeza as boas são maiores e melhores que as ruins.

Os objetos nos fizeram lembrar de várias coisas boas e ruins. Mas a nossa maior e melhor recordação não está nos objetos e sim na nossa memória.

Se na juventude fiz loucuras,
E por alguma razão esqueci,
Vou na memória à procura,
Quero lembrar do que fiz,
Pois não lembro de nada,
Que não tenha me feito feliz.

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