quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Morfeu

Performance Morfeu


Através de estudos em sala de aula debatemos sobre performance. A performance não tem uma definição exata, mas podemos dizer que é uma forma de expressão artística que não necessariamente precisa estar ligada ao teatro, mas também com a dança, a música, a poesia ou até vídeo.Para Cohen (1989, p. 138), I I 38
O performer vai conceituar, criar e apresentar sua performance, à semelhança da criação plástica. Seria uma exposição de sua ‘pintura viva’, que utiliza também os recursos da dimensionalidade e da temporalidade.”
É importante destacar que uma performance não necessariamente precisa de ter um público. Ela pode também partir de um improviso, ou quando o ator percebe que aquela ação não gerou uma reação ele pode mudar completamente o que estava fazendo e partir para algo que consiga dar o efeito esperado. A performance também pode partir de dois estímulos. Um pode partir apenas do querer, do impulso, vontade, desejo. Se eu quero me vestir de coelho e sair pulando pela rua, eu saio. Isso não precisa ter um por quê, uma explicação eu apenas executo a ação por uma vontade própria. O outro estímulo pode estar ligado a uma política, uma crítica a alguém, uma revolta que a população ou um determinado grupo quer discutir. Neste caso a performance tem um motivo, uma política, como por exemplo fazer uma crítica ao governo, ou a saúde pública, ou a violência enfim, geralmente as pessoas gostam também de criticar algo que está acontecendo no momento e que perturba a maior parte da população.
A partir desses estudos sobre o que é performance, abrimos um debate em sala de aula com todos os alunos e discutimos o que cada um pensa, o que cada um gostaria de fazer numa performance. Surgiram várias ideias. Mas não foi difícil eleger uma. Escolhemos uma bem maluca, que é a nossa cara. Tivemos a ideia de espalhar colchões pelos corredores do prédio de direito e a princípio fingir que estávamos dormindo. Mas depois pensamos que não é assim tão fácil ter uma noite tranquila de sono, não são todas as pessoas que conseguem isso. Então surgiram várias ideias. O que eu faço na hora que estou tentando dormir? O que me perturba? Pode ser um pesadelo? Mas o que eu sinto e o que eu vejo nesse pesadelo? É uma risada? Gritos? Vozes? Passos? Sustos? Tudo isso pode passar na cabeça de uma pessoa antes dela dormir ou mesmo durante o sono, são as diferentes relações com o sono. Então fizemos exatamente isso. Cada um escolheu uma ação para ser sustentada durante cerca de 50 minutos. Eu dei sustos nas pessoas, Iasmin dava gargalhadas, Sarah cantava, etc. A nossa intenção foi quebrar o cotidiano das pessoas, de distanciá-las do que já estavam acostumados a ver, de sair do comum, do dia-a-dia. Mas duas duplas fizeram algo que me chamou atenção de uma outra forma. Foi a cena da Yule com o Jefferson onde eles quiseram demonstrar uma cena onde uma mulher era obrigada a manter relação sexual com o marido, um estupro talvez. Isso para mim não foi apenas romper ou quebrar o cotidiano das pessoas, mas sim um desabafo do que realmente acontece no nosso país e em tantos outros, uma polemica, uma forma de chamar atenção das pessoas, mas de forma a se pensar. Tenho certeza que se alguém ali já passou por algo parecido, ficou muito chocado e sensibilizado. A outra dupla foi o Vinicius e a Naiara que também me chamou atenção. Vinicius estava se masturbando e Naiara pintando as pernas de tinta vermelha como se estivesse tendo relação sexual pela primeira vez. Parando para pensar o ato de masturbação é um ato normal na fase adolescente/adulta, mas por ser um ato considerado por muitos que ali passavam como ato obsceno, gerou um estranhamento muito grande. Na minha visão como crítica, o estranhamento é algo necessário em toda performance. O sujeito que vê a ação precisa se sentir incomodado, ele precisa ter a curiosidade de investigar aquilo que está vendo que toma como “estranho”. Ele precisa se questionar. Se perguntar e até mesmo opinar e se sentir a vontade entrar nesse ato. Foi o que aconteceu com a ação da Carol. Ela convidava os alunos para deitarem no colchão com ela e faziam eles viajaram numa conversa maluca com ela. Foi lindo quando um deles aceitou e realmente entrou na conversa e assim também participou de forma efetiva na performance.
Porém não foi assim que a maior parte das pessoas reagiu. Muitos além de acharem estranhos. Revoltaram-se. Acharam desnecessário, ridículo, absurdo. Isso me motivou a querer fazer ainda mais, pois foi isso que me sustentou. As pessoas me olhando torto, dizendo que somos loucos, idiotas, que queríamos chamar atenção. E todos essas reações eram as que eu queria ver, queria instigar essa ira neles e até provocar. Pois é isso que uma performance exige. Se nada acontece não podemos chamar de performance nem mesmo de intervenção.
Uma outra questão a ser levantada e muito importante, é o preconceito. O próprio nome já diz : pré conceito. Antes mesmo de terem conhecimento do que era aquilo que estavam vendo, já nos julgavam. Ouvimos diversas vezes comentários do tipo: “Só pode ser esse pessoal de Artes Cênicas”, “Vocês poderiam estar em casa dormindo nesse dia de chuva, mas estão aqui”, “Que ridículo” e tantos outros. Vimos ainda mais a ignorância dos alunos por desconhecerem a arte. Até mesmo professores que foram reclamar desse nosso ato e dizer que estávamos atrapalhando. Gosto da ideia de trabalharmos dentro da Universidade, acho que esses impactos devem ser causados principalmente nos jovens que são os que mais carregam o preconceito. Mas acho que deveríamos explorar outros lugares. Ir para as ruas mesmo. Fechar uma rua. Usar uma faixa de pedestres. Tomar conta de uma pracinha, um terminal de ônibus, rodoviária até aeroporto. Quero ver a reação das pessoas de fora da Universidade. Será que terão a mesma visão? Temos que abranger novos públicos e mostrar nosso trabalho para novas pessoas e receber novas críticas.



















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