Performance
Morfeu
Através
de estudos em sala de aula debatemos sobre performance. A performance
não tem uma definição exata, mas podemos dizer que é uma forma de
expressão artística que não necessariamente precisa estar ligada
ao teatro, mas também com a dança, a música, a poesia ou até
vídeo.Para Cohen (1989, p. 138), I I 38
“O
performer vai conceituar, criar e apresentar sua performance, à
semelhança da criação plástica. Seria uma exposição de sua
‘pintura viva’, que utiliza também os recursos da
dimensionalidade e da temporalidade.”
É
importante destacar que uma performance não necessariamente precisa
de ter um público. Ela pode também partir de um improviso, ou
quando o ator percebe que aquela ação não gerou uma reação ele
pode mudar completamente o que estava fazendo e partir para algo que
consiga dar o efeito esperado. A performance também pode partir de
dois estímulos. Um pode partir apenas do querer, do impulso,
vontade, desejo. Se eu quero me vestir de coelho e sair pulando pela
rua, eu saio. Isso não precisa ter um por quê, uma explicação eu
apenas executo a ação por uma vontade própria. O outro estímulo
pode estar ligado a uma política, uma crítica a alguém, uma
revolta que a população ou um determinado grupo quer discutir.
Neste caso a performance tem um motivo, uma política, como por
exemplo fazer uma crítica ao governo, ou a saúde pública, ou a
violência enfim, geralmente as pessoas gostam também de criticar
algo que está acontecendo no momento e que perturba a maior parte da
população.
A
partir desses estudos sobre o que é performance, abrimos um debate
em sala de aula com todos os alunos e discutimos o que cada um pensa,
o que cada um gostaria de fazer numa performance. Surgiram várias
ideias. Mas não foi difícil eleger uma. Escolhemos uma bem maluca,
que é a nossa cara. Tivemos a ideia de espalhar colchões pelos
corredores do prédio de direito e a princípio fingir que estávamos
dormindo. Mas depois pensamos que não é assim tão fácil ter uma
noite tranquila de sono, não são todas as pessoas que conseguem
isso. Então surgiram várias ideias. O que eu faço na hora que
estou tentando dormir? O que me perturba? Pode ser um pesadelo? Mas o
que eu sinto e o que eu vejo nesse pesadelo? É uma risada? Gritos?
Vozes? Passos? Sustos? Tudo isso pode passar na cabeça de uma pessoa
antes dela dormir ou mesmo durante o sono, são as diferentes
relações com o sono. Então fizemos exatamente isso. Cada um
escolheu uma ação para ser sustentada durante cerca de 50 minutos.
Eu dei sustos nas pessoas, Iasmin dava gargalhadas, Sarah cantava,
etc. A nossa intenção foi quebrar o cotidiano das pessoas, de
distanciá-las do que já estavam acostumados a ver, de sair do
comum, do dia-a-dia. Mas duas duplas fizeram algo que me chamou
atenção de uma outra forma. Foi a cena da Yule com o Jefferson onde
eles quiseram demonstrar uma cena onde uma mulher era obrigada a
manter relação sexual com o marido, um estupro talvez. Isso para
mim não foi apenas romper ou quebrar o cotidiano das pessoas, mas
sim um desabafo do que realmente acontece no nosso país e em tantos
outros, uma polemica, uma forma de chamar atenção das pessoas, mas
de forma a se pensar. Tenho certeza que se alguém ali já passou por
algo parecido, ficou muito chocado e sensibilizado. A outra dupla foi
o Vinicius e a Naiara que também me chamou atenção. Vinicius
estava se masturbando e Naiara pintando as pernas de tinta vermelha
como se estivesse tendo relação sexual pela primeira vez. Parando
para pensar o ato de masturbação é um ato normal na fase
adolescente/adulta, mas por ser um ato considerado por muitos que ali
passavam como ato obsceno, gerou um estranhamento muito grande. Na
minha visão como crítica, o estranhamento é algo necessário em
toda performance. O sujeito que vê a ação precisa se sentir
incomodado, ele precisa ter a curiosidade de investigar aquilo que
está vendo que toma como “estranho”. Ele precisa se questionar.
Se perguntar e até mesmo opinar e se sentir a vontade entrar nesse
ato. Foi o que aconteceu com a ação da Carol. Ela convidava os
alunos para deitarem no colchão com ela e faziam eles viajaram numa
conversa maluca com ela. Foi lindo quando um deles aceitou e
realmente entrou na conversa e assim também participou de forma
efetiva na performance.
Porém
não foi assim que a maior parte das pessoas reagiu. Muitos além de
acharem estranhos. Revoltaram-se. Acharam desnecessário, ridículo,
absurdo. Isso me motivou a querer fazer ainda mais, pois foi isso que
me sustentou. As pessoas me olhando torto, dizendo que somos loucos,
idiotas, que queríamos chamar atenção. E todos essas reações
eram as que eu queria ver, queria instigar essa ira neles e até
provocar. Pois é isso que uma performance exige. Se nada acontece
não podemos chamar de performance nem mesmo de intervenção.
Uma
outra questão a ser levantada e muito importante, é o preconceito.
O próprio nome já diz : pré conceito. Antes mesmo de terem
conhecimento do que era aquilo que estavam vendo, já nos julgavam.
Ouvimos diversas vezes comentários do tipo: “Só pode ser esse
pessoal de Artes Cênicas”, “Vocês poderiam estar em casa
dormindo nesse dia de chuva, mas estão aqui”, “Que ridículo”
e tantos outros. Vimos ainda mais a ignorância dos alunos por
desconhecerem a arte. Até mesmo professores que foram reclamar desse
nosso ato e dizer que estávamos atrapalhando. Gosto da ideia de
trabalharmos dentro da Universidade, acho que esses impactos devem
ser causados principalmente nos jovens que são os que mais carregam
o preconceito. Mas acho que deveríamos explorar outros lugares. Ir
para as ruas mesmo. Fechar uma rua. Usar uma faixa de pedestres.
Tomar conta de uma pracinha, um terminal de ônibus, rodoviária até
aeroporto. Quero ver a reação das pessoas de fora da Universidade.
Será que terão a mesma visão? Temos que abranger novos públicos e
mostrar nosso trabalho para novas pessoas e receber novas críticas.
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